O Zendo Vale dos Sinos tem como missão estudar e praticar os ensinamentos Shakiamuni Buda e demais ancestrais do Darma, vinculados a tradição Soto do Japão. Através de suas práticas, busca refúgio nas três jóias do Budismo: O Buda, o Darma(os ensinamentos) e a vivência de vida comunitária(Sanga).
Que os méritos de nossa prática se estendam a todos os seres!

domingo, 6 de dezembro de 2015


O BUDA QUE NASCE DA LAMA
O 08 de  dezembro é celebrado como o dia da Iluminação do Buda, de acordo com o calendário budista. Há cerca de 2.500 atrás, um jovem príncipe chamado Sidarta Gautama decide romper com a vida nos palácios e unir-se aos  monges ascetas em busca de respostas aos seus questionamentos acerca da vida e da morte e o porquê de tanto sofrimento. De maneira dócil,  mas decidido, ele transgride  a autoridade paterna, deixa mulher e filho e lança-se na busca . Sai do extremo de uma realidade para o extremo de outra, do conforto dos palácios para a vida de monge mendicante, um asceta na  floresta, vivendo ao relento e com muitas privações. Após 6 anos vivendo  no limite, relativiza e  decide por um caminho intermediário. Decide permanecer em meditação,  sentado em lótus completa, embaixo de uma árvore fícus religiosa, até atingir a iluminação.  Após 7 dias e noites, no despertar do 8º dia atinge o completo despertar, acessando um nível tão profundo de consciência que nossa mente comum não consegue imaginar.
Todos os mosteiros, templos e centros de prática no mundo celebram essa data em retiro, geralmente do dia 1º de dezembro até o raiar do dia 08. Nossa comunidade costuma celebrar essa data com um retiro de um dia, chamado zazenkai. Quando iniciei a preparação do material de divulgação me ocorreu colocar uma flor de lótus, que simbolicamente significa a capacidade que temos para encontrar nossa natureza original, nossa capacidade búdica, nossa capacidade para sair da ignorância e adentrar a mente desperta, mesmo em meio ao sofrimento, tal qual a flor de lótus, que nasce na lama, da lama, sem ser maculada por ela. Nasce pura e bela, tal qual o Buda, que após ser arrebato pelo sofrimento, o supera através da suprema e perfeita sabedoria.
Em meio a confecção desse material, acontece a tragédia de Mariana, os ataques terroristas em Paris, a execução pela polícia  dos cinco jovens no RJ, a decisão  do governador de SP de fechar escolas, e por último a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma, um golpe na democracia e na soberania popular.  Ou seja, é  lama pra todo lado.
Samsara e nirvana, paraíso e inferno, o bem e o mal, Mara e Buda , diabo e anjos...não são entidades separadas. Estão interagindo o tempo todo como entidade única que opera em cada um de nós e na sociedade como um todo. Muitas vezes estamos imersos no sofrimento e é  necessário fazer contato, sentir nossas dores, sentir as dores do outro, da sociedade como um todo. Como fizeram as meninas e os meninos, estudantes de São Paulo, emergiram feito pequenos Budas em meio ao caos. É através desse sentir que vivenciamos a compaixão – com paixão, contato fecundo entre mente, corpo e coração. Ouvir e sentir as dores e lamentos do mundo, e quem sabe assim nosso Buda interior se manifeste. Em benefício de nós mesmos e de todos os seres.

Gasshô