O VERDADEIRO DARMA DE BUDA
Tenho lido e ouvido, de
professores do zen e praticantes leigos preceitados sobre o verdadeiro darma de
buda. Professores que se dizem oferecer o verdadeiro darma de buda e alunos que
dizem ter recebido/experenciado o verdadeiro darma de buda. O enunciado “ o
verdadeiro darma de buda”, por si só já é dualidade. Se tem um verdadeiro é
por que tem um falso. O darma de buda está além dessa dualidade, ele É. Se você
não consegue apreendê-lo, vê-lo, percebe-lo , isso não quer dizer que ele não
existe.
Mestre Dogen, fundador de
nossa ordem , quando voltou da China, trazendo o zen para Japão, disse ao
chegar, que tinha obtido o verdadeiro
Darma de Buda. Isto foi o suficiente para deflagrar sérios conflitos com outras
ordens budistas. Penso que devemos contextualizar essa fala de Mestre Dogen.
Acho que ele não encheu a boca para dizer isto, de forma arrogante e
discriminatória e nem era intenção dele provocar discórdias.
Ele provavelmente queria
dizer que tinha aprendido o budismo fundante, ensinamentos sobre a prática
budista, deixados pelo fundador original
do zen – Xaquiamuni Buda, em que o
zazen(meditação) fazia parte desses pilares fundantes. Treinamentos em prajna,
em sila e Djana, a meditação. Não se fazia meditação nas outras ordens
budistas. Para nossa ordem, a prática da meditação - zazen
- é o principal portal para acessar sabedoria(prajna) e compaixão. Exige
esforço, disciplina e dedicação. Não basta estudar os ensinamentos de forma
intelectual.
No meu entendimento, Dogen
fez no Japão, no século XIII o que Bodidarma, no século VII , fez na China,
quando levou o darma de Buda para China. Já havia budismo na China, mas era
confinado nos mosteiros e não se fazia zazen – djana. A maneira que encontrou para
ser um contraponto, foi sentar-se em zazen de frente para uma parede, dentro de
uma caverna, por 9 anos.
Mestre Keizan, também
considerado um dos fundadores do zen no Japão, escreveu o Denkoroku – Anais da
Transmissão da Luz, onde escreve e comenta sobre a iluminação dos ancestrais da
linhagem até ele, por volta do ano de 1400. Ele fala sobre as três eras dos
ensinamentos de Buda – a era do Darma
Correto, a era do Darma Imitado e, a era do Darma Degenerado. O Darma Correto se
expressa quando de tempos em tempos, grandes ancestrais do Darma retomam os ensinamentos fundantes e
presentificam o Buda vivo. Apesar disso, sucessivas gerações , incluindo a
nossa, vivemos o Darma Imitado quando seguimos aprendendo uma doutrina que já
percorreu tantos caminhos e que segue como a água, para fundir-se no grande
oceano do Darma. O mar não discrimina
entre essa ou aquela água. Inclui a todos que desejam, de coração sincero,
seguir nas pegadas do Tathagata – como crianças-Buda, despertando para o pensamento do despertar. Em
comunhão auspiciosa!
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